Só a bazuca tem €715 milhões para descarbonizar a indústria portuguesa. Mas há mais tipos de projetos financiáveis pelos apoios à transição climática.

A sustentabilidade competitiva é o novo paradigma das empresas comprometidas com o Pacto Ecológico Europeu e o espírito da iniciativa da Lei Europeia do Clima. E fundos europeus não vão faltar para apoiar os empresários a adaptarem o tecido produtivo às novas exigências em matéria ambiental.

O maior dos objetivos é contribuir para a redução das emissões de CO2 em 55% até 2030, em linha com o Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030 (PNEC) e com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Uma meta tão exigente quanto necessária pois há quem duvide que este corte seja suficiente para evitar a crise climática.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) submetido pelo governo português à avaliação da Comissão Europeia consigna 38% das verbas ao combate das alterações climáticas. São apoios diretos ou indiretos a uma economia mais verde. Em causa estão €6.340 milhões do total de €16.644 milhões de subsídios e empréstimos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, vulgo bazuca europeia.

Em particular, o PRR prevê €715 milhões para a descarbonização da indústria e apoiar a preparação atempada do tecido produtivo nacional às novas exigências em matéria ambiental.

“O setor da indústria constitui um dos setores com maiores consumos energéticos”, justifica a partner da Deloitte, Susana Enes. “Acresce que o setor da indústria apresenta uma intensidade energética bastante elevada e assume uma parcela eminente das emissões de gases com efeito de estufa, o que reflete a forte dependência deste setor de combustíveis fósseis”.

 

PAPEL E AS OUTRAS TODAS

“Efetuando uma análise mais detalhada aos consumos de energia do setor da indústria, verifica-se que, no caso das indústrias transformadoras consumidoras de energia final do país, a indústria do papel e artigos de papel assume a posição cimeira, seguindo-se a indústria do cimento e cal e a indústria química”, explica Susana Enes.

No ranking das dez fileiras com maior consumo final de energia surgem: papel e artigos de papel (1.º), cimento e cal (2.º), químicas e plásticos (3º), alimentação, bebidas e tabaco (4.º), cerâmicas (5.º), têxteis (6.º), vidro e artigos de vidro (7.º), metalo-eletro-mecânicas (8.º), siderurgia (9.º), madeira e artigos de madeira (10.º).

“Numa primeira análise, podemos então concluir que os principais beneficiários do alcance da meta da eficiência energética serão as indústrias mais intensivas no uso de energia”, diz Susana Enes. “Porém, na realidade, a transição energética trata-se de uma oportunidade única em que todos irão sair beneficiados, em que as organizações irão ver reduzidos os seus custos de produção, tornando-se assim mais competitivas”.

A consultora destaca “uma oportunidade para aumentar o investimento, o emprego e o crescimento da economia, uma oportunidade para substituir importações, uma oportunidade para o nosso sistema científico e de inovação. E sim, também uma oportunidade para os consumidores, que terão custos mais reduzidos, sobretudo quando comparado com os custos que teriam caso mantivéssemos a nossa dependência fóssil”.

O caminho para uma economia neutra em carbono exige uma ação conjunta de diversos setores e de diversas áreas estratégicas, dando especial atenção à eficiência energética, mas também à diversificação de fontes de energia, à promoção de processos, produtos e serviços de baixo carbono e não menos importante à inovação e investigação.

“Embora todos os setores de atividade contribuam para a transição energética, o setor da industrial e o setor energia darão um grande contributo na área de investigação e desenvolvimento (I&D), em que várias instituições irão atuar com o objetivo comum de apostar numa investigação sustentável e para a sustentabilidade através da geração do conhecimento do nosso território”, diz Susana Enes.

PROJETOS MAIS VIÁVEIS

Eis alguns exemplos de projetos de investimento do setor industrial que são passíveis de obter cofinanciamento público no âmbito dos fundos europeus:

  • Projetos que visem a introdução de novos processos, produtos e modelos de negócio ou a alteração de processos visando a sua descarbonização, incluindo novas tecnologias de baixo carbono processos produtos e modelos de negócio ou a alteração de processos visando a sua descarbonização, incluindo novas tecnologias de baixo carbono
  • Projetos que visem a adoção de medidas de eficiência energética na indústria, que permitam simultaneamente reduzir o consumo de energia e as emissões de gases com efeito de estufa, em paralelo com a adoção de sistemas de monitorização e gestão de consumos que permitam gerir e otimizar os consumos de energia aproveitando o potencial da digitalização e a automação
  • Projetos que visem a incorporação de energia de fonte renovável, nomeadamente de hidrogénio e de gases renováveis na indústria, painéis solares e armazenamento de energia
  • Projetos endereçados pelos setores têxtil e vestuário, calçado e resina natural, para alavancar a transição para produtos de base biológica e promover a utilização e a reciclagem de subprodutos, potenciando uma utilização eficiente de recursos e criando maior valor do mesmo material
  • Projetos que visem a produção de gases de origem renovável, hidrogénio ou o biometano, bem como a adoção de tecnologias testadas e que não estejam ainda suficientemente disseminadas no território nacional, ambos visando o autoconsumo e/ou injeção na rede
  • Projetos que visem promover as simbioses industriais (urbanas, locais, regionais)
  • Projetos que visem promover a digitalização do setor industrial (indústria 4.0)
  • Projetos de eco-inovação em tecnologias de baixo carbono e projetos de investigação e desenvolvimento (I&D) que permitam apoiar a transição para uma economia de baixo carbono reduzindo os custos da transição