Previsões das Organizações Internacionais

Após o anúncio das “tarifas recíprocas” pela nova Administração dos EUA (2 de abril), as previsões para o comércio internacional em 2025 apontam para um cenário de desaceleração económica global, aumento da inflação e reconfiguração das cadeias de abastecimento.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) reviu em baixa a previsão de crescimento do comércio global de mercadorias decorrente do anunciado aumento de tarifas e face à incerteza nas políticas comerciais. Uma queda de 0,2% em 2025, devido à intensificação da guerra comercial entre os EUA e a China, com tarifas superiores a 100% para alguns bens. A OMC alerta que o desacoplamento total entre as duas maiores economias mundiais pode reduzir, a longo prazo, o PIB mundial até 7%. A OCDE expressa idênticas preocupações em consequência do trumpismo económico. Prevê uma inflação de 2,8% nos EUA no corrente ano, acima da previsão anterior de 2,5%. O impacto das reciprocal tariff rates atingirá a União Europeia. Países como a Alemanha e a Itália, entre outros da zona euro, podem ser afetados com severidade, especialmente em sectores como automóveis e farmacêuticos. O Goldman Sachs prevê um crescimento do PIB da zona euro de apenas 0,7% em 2025, abaixo das projecções mais recentes do Banco Central Europeu e do FMI (0,8%).

Medidas e Recomendações para Portugal

Em Portugal, o Banco de Portugal recomenda que as empresas portuguesas diversifiquem os seus mercados de exportação e promovam o investimento direto estrangeiro para mitigar os efeitos das novas tarifas. Embora o comércio com os EUA ainda não tenha mostrado sinais de desaceleração, é essencial reforçar a presença em mercados alternativos e manter a flexibilidade económica. O governo de gestão anunciou um pacote de apoio económico no valor de 11,1 mil milhões de euros para apoio de cerca de 70.000 exportadores e investidores estrangeiros. Respectivamente, 5,2 mil milhões em linhas de financiamento para fundo de maneio e investimento; 3,5 mil milhões direcionados à exportação;400 milhões em subsídios e 1,2 mil milhões para seguros de crédito.

Curiosamente, a Ibéria, na presente conjuntura, cresce mais expressivamente. O FMI prevê que a economia de Espanha cresça 2,1% em 2025, e Portugal 2,3%.

Perspectivas Futuras e Suspensão Temporária das Tarifas

Trade Tariffs Tug of War

A China advertiu que adoptará represálias contra países que firmarem acordos comerciais com os EUA que prejudiquem os seus interesses. O Ministério do Comércio chinês acusou os EUA de usar a reciprocidade como justificação para exercer pressão económica unilateral e criticou a Administração Trump por pressionar 70 países para reduzir os seus laços comerciais com Pequim.

Antevê-se que os países se comecem a concentrar na criação de um sistema global de comércio, mais equilibrado e resiliente: a China, estimulando o consumo interno; a Europa, aumentado os gastos com infraestrutura e defesa e prosseguindo a sua integração, especialmente no domínio do mercado de captais; e os EUA colocando a dívida do governo federal numa trajectória descendente.

A suspensão, por 90 dias, decidida por Trump (9 de abril), da aplicação das tarifas alfandegárias, pode ser benigna no curtíssimo prazo. Evita retaliações precipitadas, permite negociar, recuperou a bolsa norte-americana. Suspensão não é sinónimo de reversão. Prolonga a incerteza, reduz o consumo, trava o investimento. A percepção de risco associada aos activos norte-americanos mantém-se. As perpectivas sobre o status do dólar e o mercado de títulos-americano devem ser acompanhadas de perto.

João Ferreira da Cruz

Economista