Nova Escalada na Guerra Comercial

No mais recente episódio da guerra comercial, Trump recomendou – leia-se, ameaçou – a imposição de uma tarifa recíproca de 50% sobre os produtos da União Europeia, com efeitos a partir de 1 de junho de 2025. Justifica Trump, como reação às “…poderosas barreiras comerciais, impostos sobre o IVA, penalizações ridículas para empresas, barreiras comerciais não monetárias, manipulações monetárias, processos judiciais injustificados contra empresas americanas, e muito mais, conduziram a um défice comercial com os EUA de mais de 250 milhões de dólares por ano, um número totalmente inaceitável”, (publicado na rede Truth Social, em 23 de maio).

Em resposta à ameaça, Úrsula von der Leyen na “boa conversa” que teve com Trump pediu tempo até 9 de julho “para alcançar um bom acordo”. O diálogo prossegue.

Impacto em Portugal: Exposição Limitada, mas Vulnerabilidade Real

Embora Portugal tenha uma exposição direta ao mercado dos EUA limitada, continua vulnerável. O crescimento económico será prejudicado nos próximos meses.

No Boletim Económico-março 2025, o Banco de Portugal prevê para este ano crescimento do PIB de 2,3%, esperando-se abrandamento em 2026 e 2027, 2,1% e 1,7%, respetivamente. Já o Conselho das Finanças Públicas, nas Perpectivas Económicas e Orçamentais 2025-2029, projeta um cenário semelhante de políticas invariantes (contabilizadas as medidas já em vigor) com o PIB a crescer 2,2%, em 2025, com abrandamento para 2,0% e 1,6%, respetivamente para 2026 e 2027. Estas previsões não acomodam eventuais estragos das medidas protecionistas da Administração norte-americana. O consumo privado e o investimento – nomeadamente através da execução do PRR – permitem alguma aceleração da atividade económica, podendo compensar, em parte, eventuais perdas na balança comercial, que se mantém positiva.

Setores mais Expostos à Guerra Comercial

De acordo com o Boletim Económico-março 2025, o Banco de Portugal identificou os setores têxtil, dos produtos minerais não metálicos (incluindo o vidro, cerâmica e cimento) e das bebidas como os mais vulneráveis ao tarifário trumpista:

  • Setor têxtil: 12% de exposição direta; 76% das vendas totais em 2023 foram para os EUA.
  • Produtos minerais não metálicos: 11,5% de exposição; 82% das vendas destinaram-se ao mercado americano.
  • Setor das bebidas: 10% de exposição; 34% das exportações seguiram para os EUA.

Setores mais Expostos às Tarifas Norte-Americanas

O Banco de Portugal explica ainda que cerca de 70% do valor dos bens exportados por Portugal para os EUA enfrentam atualmente tarifas entre 0% e 2%, mas que 6% das exportações já estão sujeitas a tarifas iguais ou superiores a 10%. Estima-se que o impacto global das novas tarifas possa resultar numa destruição de valor na ordem de pelo menos 1,1% nos próximos três anos, com efeitos particularmente concentrados nos primeiros dois.

Antecipando os riscos, o Governo e as associações empresariais, como a AEP, acompanham a evolução da situação, recomendando a diversificação dos mercados de exportação e a adopção a novas estratégias comerciais. O Governo já anunciou medidas de apoio para as empresas afetadas.

Os avisos também chegam de Bruxelas. No âmbito do Semestre Europeu, no Relatório da Primavera – março, 2025 da Comissão Europeia alerta para riscos significativos provenientes do comércio global que podem afetar, com impacto potencial no médio e longo prazo sobre as exportações portuguesas. O cenário exige uma vigilância constante sobre as dinâmicas comerciais globais e a implementação eficaz de políticas internas para mitigar efeitos adversos – agora, com urgência redobrada, face à volatilidade política interna e internacional.

João Ferreira da Cruz

Economista