…da minha experiência de vida e como consultor em processos de executive search e programas de executive counseling

Compromisso com a organização

Cedo aprendi que a lealdade tem de ser conquistada. Durante a adolescência consegui finalmente ter consciência plena do impacto que o meu comportamento para com os outros tinha na construção de uma relação de reciprocidade.

A relação entre lealdade e liderança tem sido amplamente debatida no âmbito empresarial. Ambos os conceitos, embora distintos, revelam uma interdependência significativa na construção de dinâmicas organizacionais saudáveis e eficientes. A liderança, tal como a vejo, é um processo de influência orientado para o alcance de objetivos comuns, necessitando para a sua concretização de um ambiente de confiança e cooperação. Por sua vez, a aceitação do desafio e do compromisso desejado pela liderança, depende fortemente da lealdade, que representa a vontade das pessoas em manter esses compromissos de forma continuada com uma pessoa, equipa ou organização.

Esta nota procura aprofundar esta relação, explorando os fatores que a moldam, bem como os riscos e potencialidades que dela emergem.

1. A liderança como fundamento da lealdade

Ao longo da minha vida profissional, vários empresários e gestores têm-me dito que a lealdade é frequentemente consequência direta da qualidade da liderança exercida. Líderes que demonstram integridade, coragem, coerência entre discurso e prática, dão segurança e despertam confiança na maioria dos membros da sua equipa. Esta confiança constitui a base sobre a qual nasce a lealdade. Ou seja, a lealdade não é um atributo adquirido por imposição hierárquica, mas sim uma consequência da perceção positiva do comportamento do líder. Apesar da esmagadora maioria dos líderes concordarem com aquilo que referi, em momentos de maior tensão, como é disso exemplo os processos de transformação organizacional (hoje tão necessários e frequentes…), paradoxalmente estão menos atentos ao impacto dos seus comportamentos e ações junto dos colaboradores.

Em complemento, líderes que comunicam com clareza, que valorizam a participação e que assumem responsabilidade pelas suas decisões criam condições para que os colaboradores se sintam respeitados e reconhecidos. O sentido de reconhecimento é fundamental porque aumenta a probabilidade de comportamentos de compromisso e alinhamento com a visão do líder.

2. A lealdade como suporte à liderança

A lealdade, quando presente de forma saudável no seio de uma equipa, fortalece substancialmente a liderança. Equipas leais tendem a cooperar de forma mais eficaz, a demonstrar maior resiliência face a pressões externas e a manter um compromisso mais sólido com os objetivos organizacionais. Estes comportamentos contribuem para a legitimidade contínua do líder, garantindo que a sua influência se mantém estável e eficaz ao longo do tempo.

No entanto, é importante distinguir entre lealdade saudável e lealdade cega. A lealdade saudável é baseada na confiança e no respeito mútuo e permite expressar opiniões diferentes e participar na construção de soluções e entrega de valor, mesmo em funções com uma maior componente de execução. A lealdade cega, por outro lado, implica a supressão da divergência e vulnerabilidade a dinâmicas de poder disfuncionais. Esta forma de lealdade pode reforçar lideranças abusivas, prejudicar a criatividade e gerar climas organizacionais de medo ou complacência, que em nada contribuem para o crescimento e melhoria das empresas.

3. O papel da comunicação e da cultura organizacional

A relação entre liderança e lealdade não depende apenas das características individuais do líder, mas também do contexto organizacional. A cultura organizacional exerce um impacto significativo sobre a forma como a lealdade é construída e manifestada. Culturas que valorizam a transparência, a justiça e a inclusão tendem a facilitar a emergência de vínculos leais.

Da mesma forma, a comunicação desempenha um papel central. Processos comunicacionais abertos e bidirecionais favorecem a confiança e permitem que expectativas e responsabilidades sejam claramente compreendidas. Por outro lado, ambientes onde predomina a comunicação ambígua ou hierárquica em excesso tendem a reduzir a disposição para o compromisso.

4. A interdependência entre liderança e lealdade

A relação entre ambos os conceitos é, portanto, recíproca. Uma liderança competente tende a inspirar lealdade, e essa lealdade, quando exercida de forma responsável, contribui para a consolidação da liderança e para o fortalecimento da coesão do grupo.

Esta interdependência contribui também para um sentido de pertença e confiança dos colaboradores, que associada à lealdade proporciona uma maior eficácia organizacional, enquanto uma liderança equilibrada promove o desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas.

5. Riscos e desafios

É essencial que a lealdade seja enquadrada por princípios éticos sólidos e que a liderança seja exercida com responsabilidade, firmeza e humildade. Sem tudo isto, pode gerar-se uma cultura tóxica e manipulativa, que leva a um ambiente de medo e submissão contrário aos interesses da empresa.

Tenho referido desde sempre que os compromissos são a chave de uma sociedade estruturada e bem-sucedida. Então, porque é tão difícil atingir um estágio que projete de forma saudável um grande sentido de responsabilidade face aos compromissos assumidos? Porque o equilíbrio necessário para que isso aconteça depende de vários interesses e vontades que têm de estar alinhados, e aqueles a quem foi dado o privilégio de liderar, devem entender a dinâmica global que sustenta esta convergência.

José Paulo Rodrigues

Partner & CEO da HeadPartners