Nesta décima primeira edição da newsletter do Grupo HM Consultores, entrevistamos um dos nossos principais parceiros, o Enólogo José Domingues.
Quando surgiu o seu interesse pela enologia?
Desde muito cedo. A ligação à terra, que sempre tive e a curiosidade por compreender o porquê do que tradicionalmente se fazia, levou-me para este ramo. Era interessante repetir o que as pessoas faziam porque já alguém lhes tinha ensinado assim mas, quando corria menos bem, para não dizer mal, as interrogações surgiam. Isto tanto na elaboração e conservação de vinhos para consumo em casa como em termos da viticultura que se praticava há mais de 25 anos atrás.
Habitualmente trabalha na Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Quais são as principais caraterísticas dos vinhos desta região?
Sim, objetivamente trabalho com duas sub-regões da DO Vinho Verde, Monção e Melgaço, de onde sou natural e o Lima, estando ainda com um pé no vizinha espanhola DO Rias Baixas, onde apenas elaboro espumantes.
A região dos Vinhos Verdes é a maior DO de Portugal e uma das maiores da Europa. Só por isto não faz a diferença mas, na realidade e apesar de estar dividida em nove sub-regiões, ela apresenta muito mais variabilidade do que se possa imaginar.
Poderíamos dizer que possui três rios e os seus vales, muito importantes, o Minho o Lima e também o Douro. Mas temos também um leque grande de castas autóctones, que sem dúvida é uma mais valia, aliada às diferentes características de solo, temperatura, humidade, relevo e até culturais que cada vale, cada terra, possui.
Isto permite trabalhar com matérias primas diferentes e desenvolver um portefólio de vinhos interessante ou, até mesmo, criar essa diferença com a mesma matéria (casta) e variando apenas fatores como o solo e altitude por exemplo.
Qual a casta que gosta mais de trabalhar?
Aqui sou suspeito e não podia deixar de falar na casta Alvarinho que me está no berço. No entanto, há um segundo e terceiro lugares para castas brancas, o Loureiro, que é a casta mais plantada na região, e sem dúvida tem um potência pouco explorado, e ainda o Caínho Branco, uma casta pouco conhecida e quase perdida pelo vale do Lima que, pelo que tenho ensaiado, parece promissora.
Em relação a tintas na verdade não tenho favoritas, gosto e prefiro vinhos de lote, isto é, mistura de castas e de preferência que essa mistura ocorra na vinha ou na entrada para a adega.
Atualmente, quais são os principais desafios de um enólogo?
São sempre muitos. Fazer o melhor possível e otimizar recursos é da praxe.
No entanto, e não é de hoje, há um papel também importante e cada vez mais enólogos vestem a camisola, que é na área de marketing e/ou comercial.
Mas o mais desafiante e onde acho que é necessário ter pulso, é no que é a demanda ou tendência de mercado. As “modas” e os “estilos comerciais” são tantos que corremos o risco de vir a estar a fazer todos do mesmo, perdendo assim a identidade e genuinidade das marcas, das castas e até das regiões.
A vitivinicultura tem se entrecruzado com princípios de sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Considera ser este o futuro para o setor?
Sim, sem dúvida. O ritmo a que se quer trabalhar e os resultados que se pretendem, em alguns casos, são assustadores. Acho que na vinha é onde se faz o vinho, não só, mas aqui devemos ter um papel muito responsável. Não podemos olhar para uma videira como uma mera produtora de uvas, mas sim como um elemento mais do nosso ecossistema que requer todo o respeito e cuidado.
Pode partilhar connosco uma sugestão de harmonização?
Sim, não devemos deixar de nos despedir do verão sem um bom peixinho grelhado e claro, acompanhado com bom vinho branco, de preferência da Região de Monção e Melgaço e até poderia sugerir a marca!
Em todo o caso, se não tiverem acesso a algum deste elementos, não se esqueçam que um branco no Outono e Inverno, vai sempre bem.