Nesta 13.ª edição da newsletter do Grupo HM Consultores, a entrevista é dedicada à Melany Ribeiro, diretora da HMW, a marca da HM Consultores dedicada à Consultoria de Vinhos & Azeites.
Fala-nos um pouco sobre ti e sobre o teu percurso profissional.
Desde muito cedo que tenho contacto com o setor do comércio, fruto do percurso profissional dos meus pais que passou por gerir um restaurante ao longo de 25 anos. Esta experiência talhou o meu percurso profissional e pessoal, e deduzir desde cedo que nada se conquista, sem esforço e dedicação.
Assim cresci e estudei em Aveiro, mantendo sempre uma forte ligação familiar à Região da Bairrada.
A Economia apresentou-se, também desde cedo, o caminho a seguir. Enquanto definição de ciência social, por si só, já causa alguma controvérsia, uma vez que o objetivo é estabelecer relações lógicas de causalidade entre fenómenos económicos e comportamentos humanos, e com base nisso definir relações causa-efeito (como no caso das ciências exatas). No entanto, os comportamentos humanos não são previsíveis, o que leva aos economistas a construir vários modelos teóricos, que demonstram claramente a sua visão da realidade e das suas preferências políticas.
A escassez dos recursos provoca a esmagadora maioria dos problemas económicos. Assim, pelo desafio de contribuir para um uma sociedade mais eficaz, eficiente, produtiva e inovadora conclui a licenciatura e o mestrado em Economia na Universidade de Aveiro.
Estagiei numa empresa de estamparia têxtil, tendo em 2015 enveredado pela consultoria de projetos de investimento no setor público e economia social. Sempre com grande proximidade a clientes e parceiros, na mediação de projetos e propostas, e na elaboração e acompanhamento de candidaturas de Fundos Comunitários e Nacionais.
Há cerca de um ano aceitaste o desafio de ser a responsável pela HMW, área de negócio da HM Consultores especializada no setor dos vinhos e dos azeites. Qual a tua ligação a este setor?
Apesar de gostar do meu trabalho, e de ter um carinho especial pela equipa e pelos clientes, decidi que era a altura para abraçar um novo desafio profissional, que me permitisse evoluir e trabalhar com o setor privado. Os setores dos vinhos e dos azeites são os que mais definem a cultura portuguesa, e representaram, por isso, um desafio muito interessante.
Os vinhos são uma paixão dos portugueses, e também uma herança da minha família. Desde os meus 5 anos que participo nas vindimas, e a parte favorita era, sem dúvida, o de pisar as uvas no lagar. Os meus avós paternos e maternos desde sempre produziram vinho. Posso dizer que cresci entre o negócio das vinhas, do vinho e da restauração, que me permitem compreender as dificuldades do setor, e o valor de um bom vinho, que resulta de um trabalho incansável nas vinhas ao longo, de praticamente, todo o ano.
Na tua opinião, o que distingue a HMW?
A HMW distingue-se pela sua singularidade, e pelo contacto próximo com pequenos a grandes produtores. Conseguimos alavancar o investimento em setores fulcrais para a economia portuguesa, e apresentar soluções adaptadas às necessidades.
Além de incentivos e benefícios fiscais, conseguimos ainda oferecer serviços complementares, como a implementação de serviços de gestão e qualidade, e consultoria para melhorar o desempenho operacional das empresas acompanhando a implementação das metodologias Lean e Kaizen.
O setor vitivinícola em Portugal foi fortemente afetado pelo COVID 19. Dado que tens contacto com empresas de todas as regiões e dimensões, quais te parecem ser os principais desafios e oportunidades criados pela atual pandemia?
Um dos grandes desafios do setor é sem dúvida a transição digital. A atual pandemia forçou às empresas, de todos os setores, avançaram com novas propostas para os consumidores que agora estão confinados à sua casa.
Não sendo um bem de primeira necessidade, estima-se que a quebra nas vendas do setor tenha sido entre os 25% e 30%. As vinhas produzem todos os anos, e, portanto, as empresas enfrentaram também o desafio do stock dos seus produtos. O canal de escoamento dos pequenos e médios produtores é, na sua maioria, o canal HoReCa, que estagnou.
No entanto, e como em qualquer crise, surgem sempre empresas que se destacam e que conseguem evoluir. O setor do vinho aproveitou o momento para pôr em prática novas estratégias e novos produtos, ideias que estavam pendentes, e refiro-me a provas virtuais, livros de receitas, e-commerce, sugestões de harmonizações, e até eventos virtuais. Historicamente a indústria primava por uma vertente mais tradicional, e de maior contato pessoal, e agora abriu as portas ao “mundo” digital.
Os apoios criados pelo Estado parecem-te suficientes?
Os apoios do Estado a todo o setor agrícola este ano foram escassos.
Desde fevereiro que enfrentámos a dura realidade de que os incentivos à exploração e à transformação de produtos agrícolas não iriam existir, com raras exceções para Grupos de Ação Local (GAL), que ainda tivessem disponibilidade orçamental, ou medida de apoio à instalação de Jovens Agricultores.
O setor não teve acesso a apoio à implementação de medidas extraordinárias, para responder às medidas impostas pelo Governo, investimentos para a transição digital, e contratação de recursos humanos, contrariamente ao que assistimos para o setor da indústria e de serviços. Compreendo que o setor do Turismo necessita de apoio, mas o setor agrícola foi aquele que nunca parou, e respondeu com eficácia à procura do mercado nacional.
A única medida lançada para o setor dos vinhos, foi apenas para o apoio ao armazenamento e destilação. O que claramente não responde ao investimento necessário no setor. Aguardamos muito expectantes as novas medidas, que estão a ser discutidas pelo Governo para 2021.
É urgente que os Organismos de Gestão planeiem e identifiquem claramente incentivos, as taxas e forma de apoio para o setor agrícola.
Portugal encontra-se em 9º lugar no ranking de países mais exportadores de vinho no mundo. Quais ações consideras necessárias para que possamos subir a nossa quota?
Portugal não tem apenas uma longa história de produção de vinho, mas é também um dos primeiros países que começaram a vender o produto fora das suas fronteiras, que se iniciou no Império Romano.
De acordo com os dados do Eurostat somos o 4.º maior exportador de vinho da Europa, ficando atrás de Itália, Espanha e França. As vendas ao exterior somaram € 22,7 mil milhões, maioritariamente (51%) para países não comunitários como os EUA (33%), Suíça (9%) e China (8%).
É do meu entendimento, que para subirmos no ranking, devem as empresas explorar os mercados que mais importam, respondendo assim à procura. Quanto às importações de vinho (83,8 milhões de hectolitros no total), estas são lideradas pela Alemanha (14,1 milhões de hectolitros, representando 16,8% das importações mundiais de vinho), seguida do Reino Unido (12 milhões de hectolitros) e EUA (9,2 milhões de hectolitros). Apesar de ser um dos maiores produtores de vinho, a França é, também, um dos maiores importadores, aparecendo em 4.º lugar com 5,9 milhões de hectolitros, seguida da Rússia, Holanda, Canadá, Bélgica, Suécia e Dinamarca.
A exportação é a maior oportunidade para a competitividade para uma empresa. Permite diminuir a dependência do mercado interno, e exige uma crescente melhoria na qualidade do produto, para garantir a fidelização de clientes à marca e aos produtos.
Explorar novos canais de vendas necessita, no entanto, de fazer parte de um plano estratégico, que esteja alinhado com aquilo que a empresa define como diferenciador. Para diminuir o impacto destas estratégias existem medidas de apoio à promoção de vinhos em países terceiros, que apoiam até 50% do investimento. Apesar de não estarem previstos apoios para a exportação até ao final de 2020, é conveniente que as empresas ponderem antecipadamente sobre o investimento necessário para o seu sucesso.
Melany Ribeiro
Diretora HMW