Estabilidade Macroeconómica com Crescimento Moderado

As projeções macroeconómicas para 2026 elaboradas por instituições como o Banco de Portugal, o FMI, a OCDE e a Comissão Europeia apontam para um cenário de estabilidade relativa da economia portuguesa, ainda que marcado por fragilidades estruturais persistentes. Segundo o Banco de Portugal, o PIB deverá crescer cerca de 2,3% em 2026, após 2,0% em 2025, mantendo um desempenho superior à média da zona euro. Este crescimento será sustentado sobretudo por fatores domésticos, como o consumo privado, a robustez do mercado de trabalho e a execução dos fundos europeus, num contexto externo ainda incerto. A inflação deverá estabilizar em torno dos 2%, alinhada com o objetivo de médio prazo da política monetária.

No plano internacional, o enquadramento é menos favorável. O FMI e a OCDE projetam um crescimento global próximo de 3% em 2026, abaixo da média pré-pandemia, enquanto a Comissão Europeia antecipa um crescimento modesto de cerca de 1,4% na zona euro. Este ambiente reflete os efeitos prolongados do aperto monetário, o envelhecimento demográfico e a fraca dinâmica da produtividade, fatores que condicionam particularmente economias pequenas e abertas como a portuguesa.

Diferencial Positivo face à Zona Euro Assente em Fatores Conjunturais

Apesar de Portugal apresentar um diferencial de crescimento positivo face à zona euro, este desempenho não deve ser interpretado automaticamente como sinal de convergência real sustentada. Uma parte relevante do crescimento projetado assenta em fatores conjunturais, como o dinamismo do turismo, a imigração líquida positiva e a execução temporária de fundos europeus. Embora relevantes no curto prazo, estes motores não asseguram, por si só, um aumento duradouro da produtividade nem do crescimento potencial.

Com efeito, o crescimento potencial da economia portuguesa permanece baixo, estimado em torno de 1% ao ano por instituições como a OCDE e o Banco de Portugal. Este valor reflete limitações estruturais persistentes, incluindo a fraca capitalização das empresas, a reduzida intensidade tecnológica, a pequena escala média do tecido produtivo e um mercado de capitais pouco desenvolvido. Apesar do discurso político centrado na transformação estrutural, os ganhos de produtividade continuam modestos, colocando em causa a sustentabilidade do crescimento para além do curto prazo.

Sustentabilidade Orçamental e Limites ao Crescimento de Longo Prazo

No domínio das finanças públicas, o Banco de Portugal antecipa um regresso a um ligeiro défice orçamental em 2026, próximo de -0,4% do PIB, caso não sejam adotadas medidas adicionais. A dívida pública deverá continuar a diminuir, embora a um ritmo mais lento, apoiada por excedentes primários moderados e por um diferencial favorável entre crescimento nominal e taxas de juro. Contudo, tanto a Comissão Europeia como o FMI alertam que esta trajetória é sensível a choques externos, nomeadamente a um eventual crescimento mais fraco ou a taxas de juro persistentemente elevadas.

Por fim, análises como as do OFCE sublinham os riscos de políticas orçamentais excessivamente restritivas em contextos de crescimento moderado. A contenção do investimento público, mesmo compatível com regras fiscais europeias, pode comprometer o crescimento potencial e reforçar a dependência de setores de baixo valor acrescentado. Assim, embora 2026 se apresente como um ano de estabilidade macroeconómica, revela também os limites de uma estratégia centrada na disciplina orçamental sem uma transformação estrutural profunda da economia portuguesa.

João Ferreira da Cruz

Economista