A MagazineHM #61 apresenta a entrevista realizada a Ricardo Gaudencio, Eng.º Comercial da AMADA, empresa parceira da HM Consultores especialista em fabrico de máquinas para a indústria metalomecânica.
Ricardo Gaudêncio é licenciado em Eng. Mecânica pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, tendo iniciado a sua carreira na AMADA United Kingdom Limited, no Reino Unido em 2015. Depois de 9 anos na AMADA UK onde desempenhou as funções de técnico de terreno, especialista sénior em laser de fibra, team leader da equipa de engenharia e líder do comité europeu de IoT da AMADA, regressou a Portugal em janeiro de 2024 para assumir as funções de responsável comercial da AMADA no nosso país.
Entrevista

1. A AMADA é uma marca internacional de fabrico de máquinas para a indústria metalomecânica. Apelando ao vosso conhecimento e experiência dos mercados estrangeiros e do mercado nacional, quais são as particularidades do setor da metalomecânica em Portugal?
Uma das fantásticas características da metalomecânica é a sua versatilidade e extensão de aplicação daqueles que são os produtos que passam, de alguma forma, por este importante sector. Quer em Portugal, quer além-fronteiras, encontramos empresas que se dedicam à manipulação e processamento de metais onde o seu produto final pode ter, de forma direta ou indireta, variadíssimos destinos: transportes, construção, agricultura, produção de energia, equipamentos electrónicos, entre muitos outros.
Sentimos que Portugal não foge à regra, e tanto podemos encontrar máquinas AMADA a fabricar componentes para sistemas de ar condicionado, como para estruturas de assentos de autocarros, como para equipamento agrícola pesado.
No entanto, acreditamos que o mercado português tem uma mais-valia competitiva devido à qualidade e complexidade dos produtos cá produzidos e à própria experiência do sector que esperamos não perder.
2. Em 2022, as empresas nacionais do setor metalúrgico e metalomecânico investiram 1,7 mil milhões de euros. Atualmente, quais é que têm sido as tendências de investimento?
Ao fazer uma retrospectiva daqueles que têm sido os nossos últimos projetos, existe uma clara tendência para investimentos relacionados com a automação e com a integração dos processos de fabrico com sistemas de informação.

É importante começar por referir que automatizar não significa eliminar postos de trabalho. Muitos dos sistemas de automação da AMADA, visam, pelo contrário, auxiliar operadores de máquinas naquelas que são as operações mais pesadas ou em processos que, devido à sua complexidade, requeiram operadores experientes, que as empresas têm cada vez mais dificuldade em encontrar. Como exemplos, temos a automação para carga e descarga de chapa nas máquinas de corte que, para além de reduzem a carga física nos operadores, permitem que as máquinas trabalhem de forma cíclica, sem interrupções ou constrangimentos causados pela possível ineficiência da operação humana; e, no processo de quinagem, a possibilidade de equipar máquinas com troca automática de punções e matrizes que, mais uma vez, retiram o ónus dos operadores, permitindo de forma rápida e simples a preparação da máquina para a produção de um lote de peças diferente, que cada vez são de quantidades mais reduzidas.
No âmbito da integração de sistemas, quer seja por exigência de determinados sectores ou clientes, quer seja por uma estratégia de investimento em controlo e monitorização de produção e/ou de melhoria contínua, muitos dos nossos clientes procuram máquinas e soluções que não só reportem dados de produção e de autodiagnóstico, mas também que comuniquem entre si. Aqui, o software de programação offline de máquinas e soluções de integração com ERPs, CRMs e MRPs tornam-se praticamente indispensáveis na medida em que permitem que toda a produção seja testada e preparada e controlada num ambiente virtual otimizando as operações no chão de fábrica.
3. Sabemos que o mercado está a solicitar peças cada vez mais personalizadas e complexas. Como é que os fornecedores de equipamentos se têm adaptado a estas exigências?
A personalização e complexidade de peças traz consigo uma dor de cabeça muito comum para muitas empresas: os recursos que se têm de investir para produzir, muitas das vezes, produtos unitários. Para dar resposta a esta realidade cada vez mais comum, é importante que os fabricantes de equipamentos, ofereçam soluções que permitam às empresas:
- Simular, num ambiente de teste virtual, todo o processo de fabrico de forma a minimizar desperdício de matéria prima e de taxa de ocupação de máquinas no chão de fábrica; e
- Equipar as máquinas com sistemas rápidos de troca de ferramentas para que se possa rápida, e idealmente, automaticamente preparar a mesma máquina para um produto que é feito a partir de um material com características e/ou dimensões diferentes.
No caso das máquinas de laser da AMADA, todas as máquinas vêm equipadas com um sistema de troca automática de bicos e estão preparadas para operar com uma única lente, reduzindo drasticamente a preparação necessária para processar materiais diferentes. No que diz respeito ao software, e como exemplo, é possível verificar a viabilidade do fabrico de uma peça quinada, evitando surpresas desagradáveis na primeira vez que se testa o processo no chão de fábrica.

4. De que formas é que a AMADA tem apoiado os empresários portugueses nos seus negócios?
A AMADA mantém-se fiel à sua máxima “crescer juntos com os nossos clientes”. Mais do que compradores para os nossos produtos, a AMADA procura criar parceiros de crescimento. Desta forma, quando entrámos em Portugal em 2015, fizemo-lo acompanhados de uma equipa técnica portuguesa, preparada e formada no Reino Unido, para dar assistência aos nossos clientes em território nacional e na nossa língua materna. Na verdade, 2024 tem também sido um ano de grande investimento em Portugal, com apostas no departamento comercial e com a expansão da nossa equipa técnica que se viu reforçada com 3 novos membros nos últimos meses.
Acreditamos que uma assistência técnica de excelência é fundamental para manter-nos fiéis aos valores e visão do nosso fundador Isamu AMADA. Neste âmbito, a AMADA tem vindo a apostar em produtos e serviços relacionados com a Indústria 4.0 e com a Internet of Things (IoT), que aproximam cada vez mais a nossas equipas de design, investigação & desenvolvimento, qualidade, assistência técnica, as nossas máquinas e os nossos clientes.
Consideramos também fundamental familiarizarmo-nos com os produtos, processos, rotinas, objetivos e dificuldades dos nossos clientes de forma a apresentarmos soluções adaptadas às suas necessidades. Para além de máquinas e produtos, as empresas são também feitas de pessoas e acreditamos vivamente que só com uma relação de confiança e proximidade podemos caminhar junto com os nossos clientes.
5. Qual é a vossa perspetiva dos fundos europeus no que concerne ao apoio aos empresários do setor?
A temática dos fundos europeus é avaliada de forma díspar pelos nossos clientes. Se por um lado muitas empresas consideram um incentivo fundamental para captação de investimento, outras consideram o processo burocrático, incerto e de certa forma arriscado. Consideramos, por isso, ser fundamental ter aconselhamento e acompanhamento profissionais de forma a definir uma estratégia válida e criteriosa.