A HM Consultores apresenta a entrevista realizada a António Frutuoso, Fundador da Sia, empresa parceira da especialista em Compliance empresarial.

António Aragão Frutuoso é engenheiro do ambiente, com MBA em gestão. Experiência na indústria química e de ambiente, com funções de direção da qualidade, ambiente, segurança e energia, e operações. Fundador da empresa SIA, onde exerce a função de diretor técnico e de operações em Portugal e no Brasil, em particular nos serviços associados a compliance, SIAWISE, e sustentabilidade e alterações climáticas. Consultor, auditor e verificador em áreas associadas a sistemas de gestão e de avaliação, com várias competências em várias áreas técnicas.

Entrevista

1. Fale-nos um pouco sobre a SIA e os seus compromissos com o mercado.

Os compromissos da SIA são com os seus clientes, e claro, num sentido mais lato, com o mercado. A SIA é uma empresa de consultoria, mas uma das suas principais áreas de atividade é apoio em matéria de Compliance, e grande parte da equipa da SIA está, ou esteve, ligada a esta área. Por isso, sentimos que a garantia de cumprimento faz parte do ADN da SIA, pois uma falha pode implicar um incumprimento de um cliente. Para assegurar o Compliance dos nossos clientes, disponibilizámos um serviço de software, o SIAWISE, que é um SaaS (Software as a Service), para identificação, análise e avaliação das obrigações das organizações, já disponível em 30 países, em 12 temas, como: ambiente, segurança e saúde no trabalho, qualidade, energia, laboral, segurança alimentar, proteção de dados e anticorrupção, entre outros. Temos também outras áreas técnicas onde intervimos e fomos crescendo com o objetivo de acompanhar o mercado, em particular Sustainability n’ Climate Change, Food Safety e Information n’ Data Protection.

2. A transparência e a divulgação de informações ESG são cada vez mais importantes no atual contexto empresarial. Que medidas é que a SIA tem tomado para garantir a transparência e a comunicação eficaz das suas práticas e resultados ESG?

A SIA disponibiliza diversos serviços às Organizações em matéria de ESG ou sustentabilidade. A sustentabilidade abarca diversas matérias, por isso, quando iniciamos um projeto nesta área, começamos sempre com uma avaliação de dupla materialidade, que visa determinar para cada Organização quais os tópicos relevantes e prioritários. No caso da SIA, não fazemos de forma diferente. A SIA, pela sua atividade, tem como aspetos mais relevantes as questões sociais relacionadas com os seus trabalhadores, atualmente mais de 30, por isso, os investimentos e ações efetuadas recentemente estão relacionadas com a melhoria do bem-estar de todos na organização, conciliação familiar e a cibersegurança, numa perspetiva da segurança da informação dos utilizadores finais das aplicações que usamos. Não significa que não haja outras ações, e.g. relacionadas com ambiente, como a aquisição de energia elétrica 10% renovável ou a redução das emissões das nossas viaturas, mas aquelas são as preocupações prioritárias à data.

3. Pode dar-nos um exemplo de uma iniciativa ou projeto da SIA que tenha tido um impacto significativo numa empresa em matéria de sustentabilidade ambiental?

Na nossa atividade principal, na área de Compliance, que inclui a identificação de requisitos legais aplicáveis e a verificação da sua conformidade, já temos centenas de exemplos de empresas que, com a nossa ajuda, conseguiram evoluir de uma situação de desconhecimento dos incumprimentos legais para um estado robusto nesta matéria. Assim, tendo em conta o enorme quadro legal de ambiente, segurança e saúde no trabalho, legislação laboral e energia, a evolução dos nossos clientes contribui positivamente para a sustentabilidade que cada uma terá de percorrer. Temos também diversos exemplos de clientes, com os quais determinamos a pegada carbónica e definimos objetivos para a respetiva redução, ou que, com a ajuda da SIA, criaram sistemas de gestão da sustentabilidade e que hoje encaram o tema da sustentabilidade com mais tranquilidade.

4. Como prevê que as regulamentações ambientais para as empresas evoluam nos próximos anos? Acha que as empresas portuguesas estão preparadas para essas mudanças?

São tempos de incerteza, mas pelo histórico dos últimos 5 anos da Comissão Europeia, que se mantém para os próximos 5 anos, as questões de sustentabilidade vão manter-se na agenda, e é muito provável que continuem a evoluir. Assim, os temas relacionados com alterações climáticas, redução da utilização de químicos perigosos, aumento da circularidade dos recursos, continuarão a ser os temas principais. Serão, com certeza, adotadas novas regras, ou com um âmbito cada vez mais alargado, a mais empresas ou atividades e a mais produtos ou famílias de produtos. As empresas portuguesas têm que iniciar o seu caminho para a sustentabilidade logo que possível, mas acredito que, embora possa ser um caminho necessariamente com constrangimentos, vão conseguir fazê-lo. Naturalmente, quem começar mais cedo pode obter vantagens competitivas mais à frente.

5. Na sua opinião, quais são os maiores desafios que as empresas enfrentam quando tentam implementar políticas ESG?

A expressão ESG e o conceito “sustentabilidade” abrangem muitos assuntos, tópicos ou matérias. O ecossistema do negócio de cada empresa é singular. Têm vindo a aparecer muitos serviços, aplicações e certificações associadas ao tema, tentando capitalizar a oportunidade associada, mas induzindo uma grande desinformação e até greenwashing. Pelo referido, o maior desafio para as empresas é conseguir ultrapassar a confusão criada pelos diversos intervenientes nesta matéria, e isso só se faz com a criação de competências internas, ou recorrendo a conhecimento fora da empresa, para tratarem objetivamente e de forma clara este tema.

6. Que conselhos daria às empresas que estão no início da sua jornada ESG? Quais são os primeiros passos que devem tomar para garantir que as suas práticas serão eficazes e sustentáveis no longo prazo?

O primeiro passo é determinar quais são os temas materiais, de forma mais simples, quais são as questões mais relevantes para a empresa. Para isso deverá ser efetuado o screening das matérias relacionadas com a sustentabilidade, que passa por identificar os temas e determinar quais os que podem causar algum risco para a empresa, ou sobre os quais a empresa pode ter impacto. Esta avaliação deve ter como input, no mínimo:

  • Todos os temas relacionados com a sustentabilidade;
  • As obrigações legais aplicáveis; e
  • A tendência de exigência do ecossistema onde se insere o seu negócio.

Após esta avaliação, cada empresa terá identificados os temas importantes ou significativos e poderá, a partir daí, definir a sua estratégia de sustentabilidade. Esta estratégia vai depender do próprio diagnóstico, de eventuais regulamentações que tenha que cumprir, obrigações de clientes e de outras partes interessadas ou o que de acordo com a avaliação efetuada é material (significativo).

António Frutuoso

Sia