Os Desequilíbrios da Sociedade

O mundo é complexo, é exigente e mantém-se em constante mudança. A realidade individual, não sendo muito diferente, assume contornos alarmantes nos nossos dias. Fica percetível que os desafios individuais são sistemáticos e que concomitantemente ultrapassam em muito a nossa capacidade de dar resposta de forma racional.

Nesta tentativa de controlar o “nosso mundo” e na expectativa de manter os níveis de desempenho que entendemos serem os expectáveis, “Nós” adoecemos! Na luta entre o que queremos, o que temos e o que devemos ter e/ou ser, não respeitamos os nossos limites. Estes gaps permitem em contexto real a proliferação de uma miríade de doenças mentais, que podem ter como antecedentes os elevados níveis de stress e ansiedade.

A Incerteza como Catalisadora de Stress

Transpondo a premissa anterior para a realidade empresarial, o desafio assume contornos alarmantes. Toda esta panóplia de emoções que as “nossas Pessoas” manifestam sistematicamente assumem proporções catastróficas, com potencial de causar dano com consequências nefastas para elas e para as equipas que integram ou lideram e, em última análise, para a empresa (perdas de produtividade e baixos).

Todas estas situações de risco elevado em contextos complexos como as empresas, são potenciadas pelos elevados níveis de stress devido ao aumento das exigências dos mercados onde estas operam e do contexto internacional (eg: pandemia da COVID-19, guerra na Ucrânia e no Médio Oriente). Esta incerteza gera elevados níveis de stress nas “Pessoas”, que evolui naturalmente para estados de ansiedade que, por sua vez, prolongados no tempo conduzem, inevitavelmente, a Burnout. Todas estas situações encontram um espaço privilegiado e proliferam de forma silenciosa nas empresas, mas precisamos de as identificar, de as diagnosticar e, já agora, em tempo útil, para poder atuar!

As Soluções das Empresas para o Burnout

Para impedir a escalada dos níveis de dor e sofrimento que estão muito para além da nossa tolerância, temos de encontrar soluções que gerem valor para as “Pessoas” e para as empresas, de modo a aumentar (também) o bem-estar no trabalho. Na luta pela recuperação do equilíbrio e dos níveis de energia, as “Pessoas” e as empresas devem em coautoria encontrar soluções criativas, com custos relativamente baixos, mas com um retorno do investimento considerável para todos. Alguns exemplos de medidas que atenuam este flagelo:

  1. Pequenas pausas durante o dia de trabalho;
  2. Redução do número e do tempo em reunião;
  3. Reorganização dos postos de trabalho;
  4. Redução da jornada de trabalho através da adoção da semana de 4 dias de trabalho;
  5. Modelos híbridos de trabalho;
  6. Realização de outdoors;
  7. Investir na saúde mental dos colaboradores; e
  8. Investir numa Cultura Sustentável do Well-Being.

A sociedade deve compreender que as “Pessoas” mudaram, os profissionais mudaram e as novas gerações que estão a integrar o mercado de trabalho exercem muita pressão porque o paradigma mudou! Serão eles que estão mal? A realidade é que eles não querem adoecer a trabalhar como os seus pais (ou seja NÓS). É legitimo e exigem o perfect fit entre o investimento na sua carreira e na sua vida pessoal (work-life balance).

Em suma, garantir a promoção da saúde mental e física é vital para o bem-estar no trabalho e para o negócio porque permite às “nossas Pessoas” recuperar os níveis energia. É cada vez mais necessário investir nas várias dimensões que compõem as suas vidas de forma saudável e prazerosa!

Daniela Lima
Managing Partner da SWAIFOR

A Vida Pessoal é mais Importante do que a Vida Profissional

Vamos a números? Eles estão cá para nos apoiar. Segundo o estudo Workmonitor – The Voice of Employees 2024, realizado pela Randstad, empresa especialista no mercado de trabalho, 60% dos trabalhadores portugueses não aceitariam um emprego que afetasse o seu equilíbrio de vida. Mas não é tudo. Metade chega mesmo a afirmar que a vida pessoal é mais importante do que a vida profissional. Estes dados voltam a confirmar a importância do salário emocional no mercado de trabalho do século XXI.

O que não significa que o salário é de somenos importância – até porque continuamos a pautar as nossas vidas pelo dinheiro que nos cai na conta. Aliás, 36% dos inquiridos estão preocupados em perder o emprego e, de maneira geral, o custo de vida continua alto em relação à política de baixos salários que as empresas praticam em Portugal. Não obstante, os líderes de hoje precisam de coordenar a sua ação em função desta mudança de prioridades.

Os Estilos de Liderança que Vingam

Logo à partida e conforme as possibilidade e necessidades do setor, a gestão de topo deve conceber uma cultura empresarial que valorize o trabalhador enquanto pessoa tridimensional. Isto envolve sobretudo a quebra do paradigma do autoritarismo. Um estilo de liderança que persiste em Portugal, como reflete o estudo da QSP – Marketing Management & Research, quando revela que 31,4% dos líderes optam por uma gestão que estimula a partilha de opinião de todos, a colaboração e o trabalho em equipa. Uma percentagem francamente baixa que está por certo relacionada com os baixos índices de produtividade do nosso tecido empresarial (mas deixemos isto para outros fóruns…)

Bem-Estar no Trabalho – Da Teoria para a Ação

É importante sublinhar estas estatísticas porque é difícil materializar a noção do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional sem as empresas instituírem a priori estilos de liderança participativa e democrática, adaptadas às novas exigências do mercado de trabalho. E quando se trata de prioridades, falamos de ações concretas que contribuem para o bem-estar no trabalho. Exemplos práticos de solicitações que as empresas devem atender são:

  1. Perceber cada trabalhador como único, promovendo a equidade;
  2. Possibilitar flexibilidade horária e de local de trabalho – há mesmo quem não negoceie um contrato de trabalho sem a opção do teletrabalho;
  3. Criar canais de comunicação ágeis e promover a partilha de informações relevantes ao longo de toda a hierarquia empresarial;
  4. Rever as cargas de trabalho;
  5. Encorajar as pausas durante o horário laboral; e
  6. Oferecer regalias, tais como: prémios de desempenho, dias de folga extra e seguros de saúde.

Caro Líder, Está Pronto para Receber os Novos Trabalhadores?

Ainda existe um longo caminho a percorrer no sentido do equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional, no entanto, o bem-estar é cada vez menos negociável. Numa era em que a inteligência artificial só veio complexificar as relações entre as pessoas e as empresas, a janela de tempo para quaisquer adaptações é bastante reduzida. O mundo avança e continuará a avançar num ritmo galopante, os líderes dos nossos dias devem estar prontos para o receber.

Bernardo Freire
Gestor de Marketing da HM Consultores