Crescimento moderado e relativa estabilidade

No balanço entre as perspetivas e os riscos, o período de 2026–2028 apresenta às Pequenas e Médias Empresas (PME) portuguesas um enquadramento de crescimento moderado, mas acompanhado de desafios estruturais que exigem planeamento estratégico rigoroso. A escolha deste horizonte temporal é adequada ao médio prazo empresarial, permitindo projectar investimentos, financiamento e gestão de talento com base em previsões fiáveis, quer do Conselho das Finanças Públicas (CFP), quer da Comissão Europeia, num contexto de consolidação pós-pandemia e de execução dos programas europeus, como o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).

As projecções macroeconómicas apontam para um crescimento do PIB entre 1,6% e 2,2%, criando um ambiente moderadamente favorável, embora com margem limitada para estratégias de expansão ambiciosas. A inflação deverá manter-se próxima dos 2%, continuando a pressionar os custos operacionais — sobretudo nos sectores dependentes de energia, matérias-primas e mão-de-obra qualificada — e reduzindo as margens caso não sejam alcançados ganhos significativos de produtividade.

Escassez de talento e gestão criteriosa do investimento

No mercado de trabalho, a redução da taxa de desemprego para cerca de 5,8% em 2028 reforça a escassez de talento, aumentando os custos de recrutamento e retenção, em particular nas PME tecnológicas ou especializadas. A nível financeiro, a descida gradual da dívida pública e o défice controlado contribuem para um contexto estável, mas deixam pouco espaço para reforços estruturais do apoio público, tornando as empresas sensíveis a alterações políticas ou fiscais.

As exportações deverão crescer entre 2,4% e 2,5%, ritmo positivo mas insuficiente para absorver choques externos, o que reforça a necessidade de diversificação de mercados. O investimento (FBCF) seguirá uma trajectória irregular, influenciada pelo ciclo dos programas de apoio, exigindo uma gestão criteriosa dos recursos e dos incentivos disponíveis.

3 Imperativos: modernização, eficiência e sustentabilidade

A transição digital e energética será determinante para a competitividade das PME. A digitalização de processos, a automatização, a utilização de dados e o reforço da cibersegurança permitirão reduzir custos e aumentar a eficiência num cenário de pressões inflacionistas. Em paralelo, a transição energética — impulsionada por metas climáticas e incentivos europeus — exigirá investimentos em eficiência, energias renováveis e práticas de economia circular. Apesar do investimento inicial, estas transformações oferecem ganhos de produtividade, maior resiliência e acesso a linhas de financiamento específicas.

Perante este enquadramento, os principais riscos para as PME incluem pressão sobre liquidez, aumento de custos, volatilidade externa, limitações regulatórias e escassez de talento. A mitigação destes riscos requer disciplina financeira, aposta na modernização tecnológica e energética, desenvolvimento de competências internas, diversificação de mercados e utilização estratégica dos fundos europeus.

O balanço entre as perspetivas e os riscos…

Em síntese, 2026–2028 será um período de oportunidades moderadas e desafios relevantes. Tendo em linha de conta as perspetivas e os riscos, as PME que adoptarem uma estratégia proactiva, assente na inovação, eficiência e sustentabilidade, estarão mais bem posicionadas para assegurar um crescimento sólido e reforçar a sua competitividade num ambiente cada vez mais exigente.

João Ferreira da Cruz

Economista