O Pilar da Economia Portuguesa
Em Portugal, a Indústria Metalomecânica é uma das atividades económicas mais importantes, que se destaca pela produção de máquinas e equipamentos para diversos setores, nomeadamente para a indústria automóvel e naval, para a construção civil, para a energia e para a agricultura. É, de acordo com Mafalda Gramaxo, a Diretora Geral da AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos Metalomecânicos e Afins de Portugal, “o setor dos setores”.
Através da capacidade de inovação, da qualidade dos produtos e da resiliência face aos desafios, a Indústria Metalomecânica tem vindo a prosperar de forma consistente nas últimas décadas, impulsionando o desenvolvimento e a competitividade nacional.
É ainda de salientar que a Indústria Metalomecânica contribui significativamente para a criação de emprego, para o crescimento das exportações e para a afirmação internacional da excelência do setor metalomecânico português, especialmente graças aos fabricantes de moldes das regiões da Marinha Grande, Leiria, Alcobaça e Oliveira de Azeméis.
De acordo com os dados de 2022 do Banco de Portugal referentes à situação económica da Indústria Metalomecânica em Portugal, estes indicam que:
- Existem 10 769 empresas, sendo que a maioria (98,97%) são PME e 1,04% são Grandes Empresas;
- Existem 201 677 postos de trabalho ativos; e
- O volume de negócios atingiu os 34 245 mil milhões de euros, tornando-se 2022 o ano mais rentável de sempre, apesar do aumento dos preços das matérias-primas, da energia, do combustível e dos impactos provocados pela guerra entre a Ucrânia e a Rússia.
O Modelo ShiftTo4.0
Num mundo cada vez mais tecnológico, a implementação da Indústria 4.0 nas empresas portuguesas é um aspeto crucial para aumentar a competitividade e promover o crescimento económico, bem como criar mais empregos no país.
Neste sentido, o Centro de Interface e Tecnologia (ISQ) em parceria com o IAPMEI e a Universidade de Aveiro (UA) desenvolveram uma ferramenta de autodiagnóstico designada de ShiftTo4.0 que “permite às empresas, de qualquer setor, dimensão ou localização, avaliar o seu estado de maturidade digital”.
O modelo ShiftTo4.0 apresenta um Roadmap com 6 dimensões que identifica de forma rigorosa as áreas críticas de intervenção e, consequentemente, define um plano de ação, os custos, a equipa e o financiamento necessário para colocar as estratégias em prática.
Segundo o estudo “Roadmap para a Transição Digital do Setor Metalomecânico” elaborado pela UA, as dimensões de avaliação da maturidade digital de uma empresa são as seguintes:
- Estratégia e Organização
- Estratégias em curso, principais desafios e constrangimentos;
- Indicadores de avaliação do desempenho da organização; e
- Investimentos realizados e em curso no âmbito da transição e capacitação digital.
- Infraestrutura Inteligente
- Infraestrutura tecnológica atual, de suporte à gestão das operações e à segurança da informação;
- Grau de atualização tecnológica da infraestrutura; e
- Modelos de recolha, armazenamento e análise de dados.
- Operações Inteligentes
- Arquitetura dos processos de negócio e das operações chave da cadeia de valor;
- Nível de sensorização de máquinas e equipamentos; e
- Nível de digitalização das operações.
- Produtos Inteligentes
- Recurso a tecnologias digitais para o desenvolvimento de novos produtos;
- Nível de sensorização dos produtos; e
- Nível de rastreabilidade dos produtos.
- Serviços baseados em Dados
- Importância dos dados para gerar o conhecimento e suportar a otimização e/ou desenvolvimento de produtos, serviços e processos;
- Nível de literacia em matemática/estatística para a análise dos dados; e
- Sistemas de informação que suportam a análise de dados.
- Recursos Humanos
- Nível de literacia digital das pessoas;
- Ações em curso para o desenvolvimento de novas competências; e
- Necessidades formativas.
Roadmap para a Indústria Metalomecânica
Com o intuito de colocar em prática a ferramenta ShiftTo4.0, o estudo inclui a realização de um diagnóstico a 101 empresas do setor metalomecânico, que revelou que a maturidade digital das mesmas se encontra com uma classificação média de 1,27 numa escala de 1 a 5. Tal significa que 75% das empresas estão numa fase inicial de aprendizagem e procuram familiarizar-se com as tecnologias digitais e os seus benefícios.
Por conseguinte e devido às características únicas da Indústria Metalomecânica, onde a inovação e a competitividade são essenciais para o sucesso, foi adicionada uma sétima dimensão ao modelo ShiftTo4.0: Gestão do Conhecimento, que visa aprofundar a avaliação de dois aspetos fulcrais:
- Uso de sistemas colaborativos para facilitar a comunicação e compartilhamento de informações entre trabalhadores; e
- Uso de estratégias de documentação para registar os projetos, iniciativas e atividades de inovação ou melhoria contínua.
De modo a proceder à avaliação de cada uma das mencionadas dimensões, é necessário seguir 5 etapas:
- Diagnóstico, que permite perceber qual é o estado de maturidade da empresa, através das seguintes fases:
- Apresentação: dos objetivos da empresa para a transformação digital, assim como do Roadmap que será posteriormente elaborado;
- Resposta ao Diagnóstico i4.0: utilizando a ferramenta ShiftTo4.0;
- Avaliação: perceber os desafios e constrangimentos, o nível de digitalização das operações e as competências digitais da equipa, entre outros;
- Elaboração de um Relatório: que identifique áreas críticas de intervenção, um plano de ação, custos e equipa;
- Organização de uma Sessão de Apresentação: discussão do relatório de diagnóstico; e
- Revisão do Relatório: envio da versão final.
- Visão da Estratégia de Digitalização, com foco na conversão dos dados em conhecimento e valor para a empresa, mediante uma metodologia que compreende 14 ações distintas, como por exemplo:
- Definição dos Key Performance Indicators (KPI);
- Mapeamento, caracterização e validação das fontes de recolha de dados;
- Adoção de uma rede de dados industriais segura;
- Integração de sistemas de informação, como o Customer Relationship Management (CRM) ou o Enterprise Resource Planning (ERP); e
- Definição de uma estratégia de análise estatística, entre outros.
- Plano de ação e equipa:
- Criação de um plano detalhado da estratégia de digitalização e respetivo cronograma; e
- Definição da equipa (interna e externa) e atribuição de responsabilidades a cada membro.
- Execução:
- Estabelecimento de um canal de comunicação;
- Implementação de uma plataforma colaborativa para acompanhar o progresso dos projetos;
- Realização de reuniões periódicas;
- Elaboração de relatórios intercalares, assim como do relatório final do projeto, entre outros.
- Avaliação:
- Indicadores de realização e resultado da implementação da estratégia de digitalização.
Porque Deve a Indústria Metalomecânica Adotar o Modelo ShiftTo4.0?
Como apresentado anteriormente, o atual cenário industrial exige que as empresas do setor metalomecânico se adaptem às novas tecnologias e tendências para se manterem competitivas e relevantes no mercado.
Neste contexto, a Indústria 4.0, com os seus princípios de conectividade, automatização, análise de dados e tomada de decisão inteligente, oferece um enorme potencial para as empresas metalomecânicas otimizarem os seus processos, aumentarem a sua produtividade e inovarem os seus produtos e serviços.
Assim sendo, o modelo ShiftTo4.0 emerge como uma ferramenta fundamental para auxiliar as empresas deste setor no processo de transformação digital. Através de um diagnóstico abrangente e da definição de um plano de ação estratégico, o modelo permite que as empresas identifiquem áreas críticas de intervenção, explorem novas oportunidades de negócio e alcancem determinados benefícios como:
- Aumento da competitividade;
- Crescimento e expansão;
- Aumento da produtividade e eficiência;
- Melhoria na gestão e tomada de decisão;
- Sustentabilidade e responsabilidade social; e
- Melhoria das condições de trabalho.
De modo resumido, a adoção do modelo ShiftTo4.0 na Indústria Metalomecânica é um investimento estratégico que oferece às empresas uma série de vantagens que as capacitam a enfrentar os desafios do mercado, tornando-as mais competitivas, inovadoras, sustentáveis e socialmente responsáveis.