Pressão de Custos e Incerteza Económica: Estratégias de Resiliência

Em 2025, as empresas operam num ambiente económico marcado por pressões estruturais e conjunturais, que exigem uma resposta estratégica centrada na resiliência, na eficiência e na inovação. A inflação, embora em desaceleração, permanece acima da meta de estabilidade de preços, os custos salariais continuam a subir, e a incerteza macroeconómica global afeta cadeias de valor e decisões de investimento.

De acordo com as projeções do Banco de Portugal (BoP), a inflação nacional deverá situar-se em 2,3% em 2025, ainda ligeiramente acima do objetivo dos 2,0% definido pelo Banco Central Europeu. Simultaneamente, os salários reais têm vindo a recuperar, com o salário mínimo nacional a atingir 910 euros em 2025, pressionando particularmente as micro e pequenas empresas da região com elevada intensidade de mão-de-obra.

A região de Aveiro, responsável por cerca de 7,2% das exportações nacionais de bens, tem um perfil económico com forte presença nos setores da indústria transformadora, metalomecânica, produtos plásticos, cerâmica, química e componentes para transportes. Estas atividades são particularmente sensíveis a variações nos custos com energia, matérias-primas e logística internacional — fatores que continuam instáveis devido a tensões geopolíticas e volatilidade nos mercados globais de commodities.

Neste contexto, a pressão de custos, que esmaga as margens operacionais, tem sido um desafio transversal. Dados da Pordata e do INE indicam que os custos intermédios aumentaram, em média, entre 6% e 8% ao ano no período 2021–2024 em setores industriais da região. A capacidade de manter competitividade dependerá, em grande medida, da adoção de práticas de gestão mais eficientes e de maior capacidade de antecipação.

Uma das abordagens críticas é o reforço do planeamento financeiro dinâmico, com modelos de previsão que integrem cenários múltiplos (otimista, base e adverso). Este tipo de planeamento permite reagir de forma mais ágil a choques externos, como variações abruptas no preço do gás natural ou alterações na procura externa de produtos industriais.

Outra medida estratégica consiste na renegociação de contratos de fornecimento, nomeadamente na energia, onde soluções de autoconsumo e acordos bilaterais com produtores (PPA – Power Purchase Agreements) têm mostrado resultados positivos. A adoção de sistemas de monitorização energética, com sensores e software de análise em tempo real, permitiu a várias empresas da região reduzir consumos entre 10% e 20%, segundo dados da ADENE (Agência para a Energia).

No domínio da digitalização, a utilização de sistemas ERP, CRM e BI (Business Intelligence) tem permitido ganhos significativos de produtividade e controlo de custos. O programa “Empresas 4.0”, financiado parcialmente pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), apoia a aquisição e implementação destas tecnologias com incentivos até 50% do investimento elegível. Em Aveiro, várias PME industriais e de serviços já beneficiaram destes apoios, com redução comprovada de custos operacionais em áreas como gestão de inventário, planeamento de produção e processos administrativos.

Importa também destacar o papel dos fundos estruturais e de investimento como alavancas de modernização. O Compete 2030, no âmbito do Portugal 2030, disponibiliza linhas de financiamento para projetos de inovação produtiva, transição energética, qualificação de recursos humanos e internacionalização. As empresas podem ainda recorrer ao Banco Português de Fomento (BPF) para financiamento de longo prazo com garantia mútua.

A experiência de empresas da região confirma o impacto destas estratégias. Um fabricante de componentes metálicos em Águeda investiu em robótica colaborativa com apoio do PRR, aumentando a produtividade em 30%. Uma PME do setor alimentar em Oliveira de Azeméis implementou um sistema de rastreabilidade digital, reduzindo perdas logísticas em 18%. Já uma empresa de Ovar, na área dos plásticos, substituiu fornecedores asiáticos por parceiros nacionais, reduzindo prazos médios de entrega em 22% e diminuindo o risco cambial.

Em síntese, num ambiente marcado pela instabilidade e pelos custos crescentes, a resiliência das empresas de Aveiro passará menos pela escala e mais pela capacidade de adaptação estratégica, eficiência operacional e uso inteligente dos recursos disponíveis. O desafio é real, tal como o potencial de resposta. A região dispõe de talento, conhecimento técnico e instrumentos de apoio que, se bem utilizados, podem transformar a atual pressão de custos num motor de competitividade sustentável.

João Ferreira da Cruz

Economista