Como gestor, empresário e advisor que já navegou nas duas águas, a do Talento e a da Estratégia, posso confirmar que sem talento não existe estratégia, assim como não há estratégia que resista sem talento.
Capital Humano como Pilar do Sucesso Empresarial
1. Visão Estratégica versus Plano Estratégico
Quando falamos desta grande “panela” onde cabe quase tudo, onde se confunde com frequência ações táticas com ações estratégicas, temos 2 momentos importantes: visão estratégica e plano estratégico, comumente atribuídos à mesma pessoa nas empresas de menor dimensão, ou grupo de pessoas com responsabilidades executivas na empresa com ou sem apoio de especialistas externos (empresas de média ou grande dimensão).
É fundamental saber que as competências, conhecimentos, capacidades e vivências necessárias para as fases do Processo Estratégico são diversas e exigem “talentos” diferentes.
Embora a visão estratégica seja suportada por uma reflexão que se apoia em conhecimento adquirido, tem igualmente uma componente de criatividade substancial, que se pode desenvolver, mas depende fortemente das características inatas do indivíduo – aquilo que em linguagem corrente apelidamos de intuição ou pensar “fora da caixa”. Esta capacidade atribuímo-la muitas vezes aos empresários de sucesso, embora muitos gestores também a possam ter.
O planeamento estratégico precede normalmente a visão, e corresponde, grosso modo, à sua materialização, envolvendo um percurso mais estruturado, analítico e extensivo. Tem por missão validar e exemplificar de forma detalhada a visão, definindo objetivamente os pilares estratégicos, assim como as ações que norteiam a sua implementação. Esta capacidade faz parte das aptidões obrigatórias dos executivos (acionistas ou independentes), por vezes apoiados por especialistas externos.
Assim, os perfis para os fins acima descritos são diferentes e complementares. Quem se julga “genial” em ambos os desenvolvimentos estratégicos, deve entender que será certamente melhor num deles, e procurar também os melhores para o outro.
Portanto, não há estratégia sem talento!
2. Planeamento Estratégico versus Planeamento Operacional / Operacionalização
Ao longo da minha vida profissional, vários empresários e gestores têm-me dito que, apesar de possuírem excelentes planos estratégicos, com visões inovadoras e alinhadas com as necessidades do mercado, enfrentaram grandes dificuldades na sua implementação, ou não conseguiram obter os resultados esperados.
Na verdade, existe um pormenor entre o planeamento estratégico e o operacional, que denomino de fase de “Descodificação e Evangelização”. Esta fase permite que talentos de ambos os lados, também com perfis e missões diferentes, possam comunicar eficazmente. A operacionalização do plano não depende só dos executivos, mas também das lideranças intermédias da organização.
Ou seja, tudo aquilo que na implementação do plano estratégico envolve mudança, transformação, otimização, racionalização e inovação de pressupostos, processos, etc, obriga a:
- Partilha de informação e auscultação de opiniões numa fase anterior à conclusão do Planeamento Estratégico, envolvendo algumas key functions ao nível dos quadros intermédios (líderes ou técnicos).
- Havendo a possibilidade de resistência, preparar com uma entidade independente um plano de Change Management para garantir a compreensão e adesão dos talentos que vão gerir a operacionalização do plano estratégico.
Em alguns projetos de Advisory em que participei, levámos 2 a 3 meses a construir o plano estratégico tendo por base a visão estratégica do executivo de topo e/ou acionista, desenhando simultaneamente as alterações necessárias ao nível da governance e organização, e 6 meses a 1 ano a acompanhar a boa implementação do plano operacional, com um foco muito próximo das lideranças operacionais. Só assim foi possível garantir um processo eficaz.
Não há estratégia bem definida que resista sem talento!
Partner & CEO da HeadPartners